As transformações que atingem as sociedades, em especial, as mais urbanas, têm-se mostrado tema candente nos meios acadêmicos, despertando considerável número de pesquisadores para o estudo das múltiplas variáveis envolvidas neste processo.
Dentre estas variáveis, a segurança ganha especial destaque por constituir, ao nosso ver, uma das mais significativas evidências da turbulência que envolve os relacionamentos humanos, dentro de cenários em permanente mutação. E creio que esse seja o grande desafio para os estudiosos na área da Segurança Pública e das instituições voltadas à preservação da ordem e administração de conflitos: a fugacidade dos valores e, consequentemente, daquilo que chamaríamos “realidades sociais”. De acordo com o sociólogo polonês e radicado na Inglaterra Zygmunt Bauman, vivemos o tempo da “modernidade líquida”, onde os contextos sociais assemelham-se aos líquidos, amoldando-se a cada recipiente onde são depositados.
Estas considerações nos levam a refletir sobre a efemeridade e o relativismo que revestem alguns conceitos que, em nossa opinião, servem de lastro identitário para os sujeitos, como, por exemplo, família, escola/educação, Estado/governo, igreja/religião e trabalho/empresa. A crise destes referentes, assomados de uma ética sócio-política, notadamente capitalista (ou seria melhor, mercantilista?), das desigualdades sociais e daquilo que chamamos de “cultura do descartável” – com raízes na evolução de um desenvolvimento tecnológico e científico, voltado ao consumismo -, provocam medo nas pessoas, levando-as a dois tipos de comportamento social: a crescente comunitarização, pela sensação de segurança, de intimismo, de identidade, de pertencimento, que este tipo de conduta proporciona e, num viés mais aterrador, as ações de violência, como forma de linguagem, de estratégia de sobrevivência e, pasmemos, até de participação social, do tipo “cidadania nefasta”.
Diante desse contexto, a formação de novos quadros para as instituições policiais requer uma abordagem de ordem científica, reflexiva, transversal e multidisciplinar, capacitando os novos integrantes dessas corporações a lidarem com a particularização dos cenários, com a administração de problemas pontuais e específicos de um determinado segmento, mantendo, contudo, uma visão holística, dentro da idéia da sociedade como um todo multifacetado. É um exercício que se assemelha ao jogo infantil de “pega-varetas”. Há de se ter cuidado para, em removendo uma, não mexer com a outra.
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